sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Demolir é Construir

Demolir é Construir




















Preservar imóveis antigos no Brasil, país jovem que muitos acusam de não ter memória, é uma dificuldade. A lógica do mercado e a especulação muitas vezes falam mais alto, colocando abaixo construções centenárias nas principais cidades do país. Se por um lado isso é triste, por outro existe a possibilidade de preservação com propostas alternativas.
Com originalidade aliada ao bom senso, o arquiteto Lincoln Ferri Amaral desenvolve projetos que oferecem novas alternativas para as construções com menor custo. Uma das marcas de seu trabalho é a fuga do tradicional e a busca pelo inesperado. Assim surgiu a idéia de reaproveitar materiais de demolições em novas construções.
Um dos projetos em andamento, em parceria com o arquiteto Weber Abud, é a “Mansão da Seis”, que apesar de passar imagem de um enorme casarão é um residencial formado por 15 kitchenetes em três tamanhos e disposições diferentes. “A idéia foi fazer uma casa legal, bonita e fugir daquele padrão tradicional das kitchenetes, alinhadas lado a lado em frente um corredor comprido. Minha sugestão deixar o local com ares das antigas vilas”, conta.
A ‘mansão’ está sendo construída em um terreno na rua Carlos Gomes, popularmente conhecida como rua seis. No local existiam duas casas muito antigas e sem condições favoráveis à reformas. Foram demolidas e parte do entulho pôde ser reaproveitado. De acordo com os arquitetos, do material de uma demolição é possível reutilizar portas, janelas, gradis, dormentes, azulejos, tijolos entre outros. Com isso, o custo total da obra chega ficar 30% mais barato. Para a construção das kitchenetes, um dos pontos principais foi o uso de tijolos antigos por meio da técnica do ‘lavado’ , além de todo o material que pode ser reciclado.

O velho com jeito de novo



















Mais do que um meio de economizar na construção, utilizar peças de demolição é também um estilo. Para quem gosta, a procura de peças antigas e sua adaptação no projeto é a melhor parte da obra. Para quem visita uma construção feita com material de demolição, o interessante é conhecer a história.
O estilo rústico do Restaurante Degraus foi garantido pelo uso de material de demolição. A proposta dos arquitetos Lincoln Ferri Amaral e Paulo Pires Lima foi à recuperação histórica da arquitetura dos anos 40, preservando detalhes construtivos na fachada dos quatro lados do casarão.
As portas e janelas foram feitas com madeira de vagões desmanchados. Os dormentes dos trilhos da ferrovia serviram como batentes das portas e janelas, além emoldurarem uma das laterais da casa, servindo como moldura. O piso, formando caminhos da área interna para a externa destacou os dormentes de madeira, com o cuidado de manter a linguagem rústica do local. A passagem para a área externa anexa ao restaurante foi feita a partir da demolição do muro existente nos fundos da casa. O charme ficou por conta da retirada de parte dos tijolos, deixando o que sobrou com formato assimétrica. Os cacos e pedaços de tijolos quebrados foram reutilizados, formando mosaicos aparentes no piso. Até a calçada na lateral do prédio ganhou pedras (arenito) conseguidas no lixão da cidade.

Construção Sustentável

Esse tipo de obra caracteriza-se pelo uso de materiais e tecnologias biocompatíveis, que melhoram a condição de vida do morador ou, no mínimo, não agridem o meio ambiente em seu processo de obtenção e fabricação, nem durante a aplicação e em sua vida útil. É importante evitar materiais que reconhecidamente estão envolvidos com graves problemas ambientais, e sobre os quais hoje há consenso entre todas as entidades sérias que trabalham com Construção Sustentável e Bioconstrução no mundo, caso do PVC (policloreto de vinil) e o alumínio.

A Construção Sustentável é uma síntese das escolas, filosofias e abordagens que associam o edificar e o habitar à preocupação com preservação do meio ambiente e saúde dos seres vivos. A Construção Sustentável reúne conhecimentos de arquitetura, engenharia, paisagismo, saneamento, química, eletrônica, mas também de antropologia, medicina, sociologia, psicologia, filosofia e espiritualidade. Trabalhar para que um imóvel seja sustentável (e não ecológico, como erroneamente se fala) é de fundamental importância para a saúde do indivíduo e do planeta. (Rosane D´Andrea).

Tipos de Construção Sustentável

- Construídas com materiais sustentáveis industriais – Construções edificadas com ecoprodutos fabricados industrialmente, adquiridos prontos, com tecnologia em escala, atendendo as normas, legislação e demanda do mercado. É a mais viável para áreas de grande concentração urbana, porque se inserem dentro do modelo sócio-econômico vigente e porque o consumidor/cliente tem garantias claras, desde o início, do tipo de obra que estará recebendo. Raras vezes quem opta por este tipo de construção –clientes de médio e alto padrão- utiliza soluções artesanais ou caseiras.

• Construídas com resíduos não-reprocessados (Earthship), reuso de materiais de origem urbana, tais como garrafas PET, latas, cones de papel acartonado, etc. Comum em áreas urbanas ou em locais com despejo descontrolado de resíduos sólidos, principalmente onde a comunidade deve improvisar soluções para prover a si mesma a habitação. É também um modelo criativo de Autoconstrução, que ocorre muito nas periferias dos centros urbanos ou junto a profissionais com espírito criativo.

• Construídas com materiais de reuso (demolição ou segunda mão). Esse tipo de construção incorpora produtos convencionais e prolonga sua vida útil, e requer pesquisa de locais para compra de materiais, o que reduz seu alcance e reprodutibilidade. Este sistema construtivo emprega, em geral, materiais convencionais fora de mercado. É um híbrido entre os métodos de Autoconstrução e a construção com materiais fabricados em escala, sendo que estes não são sustentáveis em sua produção.

• Construção alternativa. Utiliza materiais convencionais, encontrados no mercado, conferindo-lhes funções diferentes das originais. É um dos modelos principais no seio das comunidades carentes. Exemplo: aquecedor solar que utiliza peças de forro de PVC como painel para aquecimento de água e caixa d’água comum como boiler. Sistema de Autoconstrução que se assemelha muito ao Earthship.

• Construções naturais. Faz uso de materiais naturais disponíveis no local da obra ou adjacências (terra, madeira, bambu, etc.), utilizando tecnologias sustentáveis de baixo custo e dispêndio energético. Exs.: tratamento de efluentes por plantas aquáticas, energia eólica por moinho de vento, bombeamento de água por carneiro hidráulico, blocos de adobe ou terra-palha, design solar passivo. Método construtivo adequado principalmente para áreas rurais ou quando se dispõe de áreas que permitam boa integração com elemento vegetal, nas quais haja pouca dependência das habitações vizinhas e dos fornecimentos (água, luz, esgoto) pelo Poder Público. Sistema que se insere nos princípios da Autoconstrução.

Entulho: o que pode ser reaproveitado?




















Praticamente todas as atividades desenvolvidas no setor da construção civil são geradoras de entulho. No processo construtivo, o alto e polêmico índice de perdas do setor é a principal causa do entulho gerado. Embora nem toda perda se transforme efetivamente em resíduo, pois uma parte acaba ficando na própria obra, os índices médios de perdas fornecem uma noção clara do quanto se desperdiça em materiais de construção. Considerando que o entulho gerado corresponde, em média, a cerca de 50% do material desperdiçado, pode se ter uma idéia da porcentagem de entulho produzido em função do material que entra na obra.
Já nas obras de reformas a falta de uma cultura de reutilização e reciclagem e o desconhecimento da potencialidade do entulho reciclado como material de construção pelo meio técnico do setor, são as principais causas do entulho gerado nestas etapas, portanto, não relacionadas ao desperdício mas a não reutilização do material.
Nas obras de demolição propriamente ditas, a quantidade de resíduo gerado não depende diretamente dos processos empregados ou da qualidade do setor, pois o entulho produzido faz parte do processo de demolição. No entanto, indiretamente, a tecnologia e os processos construtivos utilizados na obra demolida, e o sistema de demolição utilizado, influem na qualidade do resíduo gerado, ou seja, alguns sistemas construtivos e de demolição podem produzir resíduos com maior potencial para reciclagem que outros, onde a mistura de materiais e componentes, ou sua contaminação, podem favorecer ou não a reutilização e a reciclagem do resíduo. (Rosane D´Andrea).

O CHARME DA REUTILIZAÇÃO

O CHARME DA REUTILIZAÇÃO

MATERIAIS ORIUNDOS DE DEMOLIÇÃO AGREGAM SOFISTICAÇÃO AO AMBIENTE, A PRÁTICA PODE PERPETUAR A HISTÓRiA E, DE QUEBRA, AJUDAR O PLANETA

Os materiais oriundos de demolição mudaram de status: deixaram de ser restos ou algo difícil de recuperação para se tornarem utensílios que agregam sofisticação. Contudo, a aplicação de janelas antigas, azulejos históricos e grades de madeira de tempos idos dependem de criatividade, além, é claro, do objetivo de quem encomenda o projeto. Afinal, não somente o desejo de perpetuar a história está por trás do anseio de reutilizar objetos, mas também a consciência ecológica de quem se preocupa em gerar menor impacto ao planeta.

“Resgatar peças antigas e reaproveitar materiais de demolição, além de ser uma proposta ecológica, significa valorizar uma história. Os objetos vão ganhando outros rumos e novas lembranças são agregadas ao que seria descartado”, opina Humberto Macêdo, arquiteto especializado em reutilização de materiais.

À revelia das motivações, o fato é que o reuso dos despojos de demolição é uma tendência que. em geral, é utilizada por apreciadores e conhecedores de arte, explica Macedo. “A sensibilidade permite a utilização de peças de demolição nos projetos. Mas a maioria ainda prefere utilizar o que o mercado impõe”, diz ele.

Contudo, uma percepção mais refinada não é garantia de um bom projeto. Segundo o arquiteto, ter a consultoria de um profissional é essencial para garantir a harmonia entre as peças restauradas e as atuais. ‘É necessário prever cada tem que será usado. As peças vão compor uma história e precisam combinar entre si”, observa.

A busca de um lar que unisse a paixão pelos objetos antigos e o desejo de viver em harmonia com o meio ambiente norteou o arquiteto ao desenvolver o projeto da atriz e professora de teatro Mariza Vargas. Em principio, a proposta arquitetônica levou em consideração não somente a dinâmica do terreno, mas valorizou também as árvores que ali estavam — incluindo um abacateiro que foi integrado ao plano arquitetônico. Além disso, muitos dos materiais usados na construção da casa de 117 metros quadrados são oriundos de demolições. Entre eles, as grades que decoram as janelas e um grande azulejo antigo, retirado de um cinema fechado em Pirapora. Minas Gerais, mas que agora está no chão da sala de estar da atriz. “E uma casa interessante, despojada, que tem estilo. Foi uma solução inteligente e criativa, sem ser cara”, conta a proprietária.

A mesma paixão pelo belo despertou na artista plástica Tereza Pereira o desejo de integrar peças antigas e restauradas à re forma da casa onde mora. ‘Desde menina coleciono arte antiga. Sempre gostei de pensar na história de cada objeto”, ressalta. Na sala de estar da casa no Lago Sul há um portal garimpado na cidade de Paracatu, em Minas Gerais, que divide os ambientes. As janelas e a porta de demolição — de origem colonial são detalhes que enriquecem ainda mais a casa da artista.

À PARTE

A despeito dos modismos do mercado arquitetônico, a aplicação de madeira na decoração possui forte apelo entre os arquitetos e decoradores, cuja preferência é notada nas exposições e mostras de decoração em que se usam materiais de demolição.

Utilizada de várias formas, esse tipo de madeira geralmente é retirada de casarões antigos e, após receber o devido trata mento, transforma-se em mesas, bancos, aparadores dentre outros objetos. Mas para ganhar nova utilidade é preciso ser madeira de lei, ensina Macêdo. Dentre as preferidas estão o lpê, a Arueira e o Jacarandá. “Além da qualidade, o produto torna os espaços mais aconchegantes e bonitos, coordenando harmoniosamente o rústico com o moderno”, ressalta.

QUESTÃO DE GOSTO

Encontrar despojos nas demolições com fins de decorar um ambiente pode ser trabalho árduo na capital federal. Com construções recentes, linhas modernas e materiais que priorizam o estilo minimalista, Brasília não oferece edificações com mate riais que possam ser restaurados e usados para esse fim, Sair à caça de peças. então, é a solução, que, talvez, explique a paixão de alguns por objetos oriundos das suas cidades de origem. “Cada peça que a pessoa escolhe carrega um pouco de sua história, seus desejos e sua personalidade”, pontua Macêdo.

E ainda que em alguns casos as demolições simbolizem o fim de uma história, em outros elas podem perpetuá-la, uma vez que as casas derrubadas pelo tempo ou pelo homem podem em prestar telhas, pisos, tijolos, janelas e portas a novos projetos.

Os custos da empreitada são variados. O material de demolição de construções recentes tem preços mais acessíveis. Já os componentes de casas antigas, de mais de 100 anos e com estilo antigo — o barroco, por exemplo — é mais valorizado. Existem até lojas especializadas que vendem esses produtos em seu estado original ou restaurados. Veja no quadro as dicas para encontrar esses materiais.

ONDE ENCONTRAR

PEÇAS DE DEMOLIÇAO

Em lojas especializadas que vendem materiais de demolição em seu estado original ou já restaurados. Outra opção são lojas que criam mobiliário a partir do material de demolição, como cadeiras e mesas feitas com a madeira do piso de uma casa demolida. Você pode ainda comprar os materiais em antiquários.

A ESCOLHA DAS PEÇAS

As lojas devem informar a origem e a qualidade do material. Uma dica é sair à caça dessas preciosidades na companhia de um profissional especializado no assunto, como um engenheiro, arquiteto ou restaurador.

A RESTAURAÇÃO

Se você comprou uma peça em seu estado original e deseja recuperá-la, saiba que a maioria das lojas que vende também faz o trabalho de restauração. Agora, se você mesmo decidiu dar um trato no objeto, peça antes a orientação de um profissional que entenda do assunto, como um arquiteto ou restaurador.

O PROJETO

Avalie se a peça antiga cabe no espaço de que você dispõe e se há necessidade de fazer uma reforma em sua casa. Estabeleça no projeto o lugar e as peças que você deseja utilizar, para que tudo fique em harmonia.

Histórias de reúso, economia e bons amigos

Histórias de reúso, economia e bons amigos


Desde que a obra da minha casa começou, fizemos um pedido aos outros moradores da ecovila que também estavam construindo: “se você for descartar algum material, por favor, avise-nos. Estamos interessados no seu lixo”. Lixo que, na verdade, se não estiver misturado a um monte de outros materiais, não é lixo e quase sempre pode ser reaproveitado. Pouca gente dá valor a isso, ou porque acha que o que sobrou não é bom, ou porque tem preconceito mesmo. Afinal, casa bacana tem que ter tudo novinho, certo? Errado.

Pode parecer radicalismo de “ecochata biodesagradável”, mas para mim não existe nada pior do que desperdício na construção civil. Já reparou no tanto de coisa boa que se vê por aí em caçambas de entulho? E nos canteiros de obra, então? É tijolo quebrado, resto de cimento, madeira apodrecendo, peças metálicas enferrujando, sobra de piso e azulejo que acaba no lixo.

Esquisitice à parte, o apelo deu muito certo e já rendeu uma boa economia na minha obra. Veja só: ganhamos, até agora, uma pia de banheiro; algumas caixas de azulejo (para a área do chuveiro nos dois banheiros); uma chapa de vidro de 1,20 x 1,10 m; 25 m² de tacos de peroba, mais uns 15 m² de tacos de madeira um pouco menores, um bom fardo de bambu e uns 500 tijolos de adobe (foto) que sobraram na casa do Hiroshi, mais uns 10 m² de outros tacos de madeira (sobra da Casa Clara, nossa casa comunitária na ecovila, que está em reforma), além de várias torneiras, fios e espelhos para a parte elétrica - doados pelo meu tio, que nem é morador da ecovila, mas soube da nossa “campanha”.

Até entulho de obras vizinhas nós já aceitamos. Com isso, reaproveitamos tudo no nosso sistema ecológico de esgoto e resolvemos o problema do vizinho (que teria de contratar uma caçamba para retirar o material e acumular mais petróleo na pegada ecológica da casa). Ah, sim, e tivemos ainda algumas trocas de materiais interessantes. Com o Hiroshi, trocamos uma sobra de ferro da minha obra por alguns sacos de cimento. Da casa da Suzy, que precisava de algumas toras de madeira e tínhamos de sobra para oferecer, veio a grama para o nosso telhado verde. E o mais inusitado: o Francisco, nosso mestre-de-obra, ofereceu trocar algumas empreitadas de trabalho na nossa casa pela moto que meu companheiro estava vendendo. (Depois, como soubemos, ele a trocou com o dono de um sítio vizinho da ecovila por um boi – ou dois, não sei ao certo...não entendo de preço de gado...)

De pouquinho em pouquinho, conseguimos boa parte do material para o piso da casa e o revestimento dos banheiros, entre outras coisas. E ainda demos vida nova ao que estava condenado ao lixo. E mais: todos esses materiais, doados de coração, farão parte da história da construção dessa casa (que já coleciona um monte delas, como você já deve ter percebido). São pessoas queridas, amigas, que serão sempre lembradas em cada canto da casa.

Para que isso tudo acontecesse, um detalhe foi imprescindível: a comunicação. Acho que é isso que falta – e muito – nas cidades e também nas zonas rurais. As pessoas não sabem do que os vizinhos precisam e também não oferecem o que têm para doar. Até porque tudo parece ter ficado restrito ao mercado e às trocas que envolvem moeda. Ninguém mais pensa em trocar produto por produto ou produto por serviço, ou quiçá serviço por serviço. Ou se faz por dinheiro ou não se faz.

Mas em tempos de crise, adotar essas práticas pode ser muito benéfico e ecológico também. Lembra da grande crise que a Argentina enfrentou anos atrás? Então, na época houve uma explosão de clubes de troca, modalidade da economia solidária. É, as pessoas perceberam que tinham muita coisa sem uso em casa que, de repente, poderia servir a outras pessoas, e vice-versa. Foi um troca-troca de alimentos caseiros, sapatos, roupas, livros, discos, panelas, móveis, aparelhos eletrônicos etc., que salvou muita gente da total miséria.

Em um prédio de apartamentos, imagine a quantidade de produtos e serviços que poderiam ser trocados ou simplesmente doados. O vizinho do décimo andar está precisando de uma TV e você, logo abaixo, querendo se livrar do modelo antigo (mas em bom estado) que foi substituído pela novíssima TV de plasma... A vizinha fazendo pão caseiro para incrementar a renda da família e você comprando pão industrializado mais caro, mais viajado, mais embalado e menos sustentável. Por quê?

Vergonha de trocar roupa usada? Vergonha de oferecer sobras da reforma? As pessoas deveriam ter vergonha de comprar um celular a cada três meses! Ou de jogar fora produtos que saíram da moda, mas ainda funcionam perfeitamente! Ou, ainda, de gastar dinheiro e recurso da natureza comprando quinquilharias absolutamente inúteis!

Eu não tenho vergonha de dizer que minha casa é um mosaico de materiais usados, comprados em lojas de demolição ou doados por amigos vizinhos. Para mim, isso é um prazer e tanto, e também uma maneira de sonhar com a possibilidade de ver gente sem grana construir sua casa com o apoio de uma rede solidária de troca e doação de produtos. Casa ecológica não tem que ser privilégio de uns poucos. Se as pessoas trocassem mais seus recursos e desperdiçassem menos, haveria menos gente na miséria e mais gente no caminho da sustentabilidade planetária. Sustentabilidade não pode ser uma palavra ou conceito elitizado. Para ser verdadeira, ela precisa ser de todos e para todos.


http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/gaiatos/165110_post.shtml

Reuso de Materiais na Construção

Reutilização de Materiais de Demolição



Antes da demolição materiais reutilizáveis como telhas, paredes e aberturas são retiradas sob algumas recomendações citadas a seguir:

- Para se retirarem as telhas é preciso primeiramente verificar a estrutura de quem irá retirá-las e a seqüência correta de execução é das telhas da esquerda para a direita e de baixo para cima - sentido inverso ao de colocação.
- As paredes dependem do tipo de reboco. As com reboco de barro bastam ser molhada para sua retirada; já as rebocadas com argamassa feita com açúcar (areia, cal, óleo) não são reaproveitados os tijolos pela dificuldade encontrada para se retirá-los.
- Quando as paredes são de madeira as aberturas são retiradas antes da desmontagem da parede e quando as paredes são de alvenaria, o procedimento é inverso - primeiro retira-se a parede e depois recolhem-se as aberturas.




Reuso de Materiais na Construção


A reutilização de materiais na construção é um problema que envolve vários fatores. Dentre eles o com maior peso é a questão econômica. Pois para desmontar um edifício, de forma tal que se aproveitem as peças, é necessário todo um cuidado especial, como mão de obra especializada e uma armazenagem correta. Os fatores positivos são: a responsabilidade ecológica, e no caso da madeira, trabalhar com um material apurado (que não trabalha mais).
Temos que considerar que o tempo transforma os materiais. Por exemplo, uma telha de cimento amianto, depois de 10 anos perde sua resistência, o que torna seu reaproveitamento muito difícil (pelo manuseio) e inviável economicamente. Já com as telhas de barro, em geral, acontece o contrário, elas melhoram seu desempenho, pois absorvem menos água, no entanto seu manuseio (e transporte) é também muito complicado. Os vidros, com o passar dos anos perdem sua pouca maleabilidade, e tornam-se extremamente rígidos, o que dificulta seu reuso, pois para cortá-lo é necessário muito cuidado, pois ele se estilhaça com muita facilidade. As madeiras podem ser consideradas um capítulo à parte, pois é o melhor material para reuso. Pois o tempo (que fique bem claro o tempo, não as intempéries) faz com que a madeira se estabilize, assim quando a reusamos ela não tem mais o que trabalhar. No entanto não é tudo um mar de estrelas, a desmontagem da edificação é muito complicada, e para reutilizar a madeira também. Temos que considerar que no madeiramento de um telhado temos muitos pregos e estes devem ser retirados com muito cuidado para não rachar a madeira. Claro que todo este trabalho só vale à pena se estivermos tratando de madeira de lei, pois com as outras a degradação é bem maior, e o tempo já não é mais tão bem vindo assim. Dificilmente conseguiremos reutilizar um forro de aglomerado, pois o tempo, a possível umidade que este tenha sido submetido, e a dificuldade de retirar o material sem estragar são desvantagens que pesam por demais, e no final das contas sairá mais barato comprar o material novo. E é exatamente este o ponto de maior dificuldade da questão do reuso se tornar algo corriqueiro, o lado financeiro, pois na maioria das vezes é mais barato e mais rápido comprar algo novo.


Telhas de papel reciclado cobrem galpões rurais


A indústria sul-mato-grossense Tecolit aceitou o desafio de produzir telhas usando papel reciclado que iria para o lixo. Essas telhas são uma alternativa ao amianto - material empregado na produção de caixas d'água, telhas e peças acessórias para telhados de fibrocimento. Com preço entre 10% a 20% menor, em três anos, em três anos de fabricação a Tecolita, como foi batizada a telha "ecológica", vem conquistando consumidores de diversos estados.
"A telha é mergulhada em um material asfáltico, a uma temperatura de 180 graus Célsius, no qual permanece por uma hora. Isso garante a sua resistência", assegura o empresário Renato Graeff. Entre outras vantagens, os empresários destacam a flexibilidade e a leveza das telhas.
As telhas feitas com material reciclado também ajudam a reduzir os ruídos, funcionando como isolante acústico, e colaboram para diminuir a temperatura. A absorção de água é mínima, em torno de 1%, sendo que as telhas de barro retém entre 30% e 40% de água.
Por enquanto, o principal consumidor das telhas é o meio rural, que as usa na cobertura de galpões, cochos e barracões para avicultura, suinocultura e confinamento de bovinos. O próximo passo é melhorar a aparência do produto. "Estamos prontos para dar início ao desenvolvimento de um processo de pintura das telhas, hoje pretas", informa Graeff. As perspectivas de ganho de mercado aumentam mais com a possibilidade de proibição no Brasil do uso de amianto - tido como cancerígeno - defendida no Congresso Nacional.
GAZETA MERCANTIL, Por Conta Própria, São Paulo, 26/04/2000

Reuso de Aberturas



Sobre o mercado de aberturas para reuso nós temos um grande mercado de peças com um valor agregado muito elevado e um mercado (praticamente de fundo de quintal) com peças populares. As aberturas antigas são muito apreciadas pela classe média por sua estética imponente e pelo valor histórico, logo é um mercado seleto onde compra uma elite que valoriza cada detalhe das peças. Justo, quanto mais velho mais caro. Já o mercado de aberturas de reuso populares é muito mais tímida, pois uma porta nova (popular) custa R$80,00, em média, e uma de reuso custa por volta de R$40,00. Ocorre o mesmo com janelas, e no caso do reuso popular, a dificuldade é maior, pois se a janela não é do tamanho padrão complica sua instalação (já que a maioria deste tipo de construção não é planejada). Logo, neste caso, quanto mais nova melhor e mais caro.
Quanto às portas e janelas mais antigas temos três problemas comuns. O primeiro é o tamanho destas aberturas, que costumavam ser muito maiores do que hoje em dia, logo o projeto deve adptar-se a estas esquadrias. O segundo problema é com as ferragens, costumam estar deterioradas, mas para trocá-las existe um problema de incompatibilidade com as ferragens modernas, sem falar que as estéticas são completamente diversas, o que encarece mais ainda este reuso, pois torna-se necessário ferragens específicas. E o terceiro são os vidros, que quando acontece de quebrar uma peça, ou troca-se todos os vidros ou tem que se procurar por vidros de época (que são totalmente diferentes de hoje, até na coloração).
Com estas duas classificações também existe o reuso de louças sanitárias e peças de azulejos para reposição. As lojas elitistas têm em geral poucas peças, todas selecionadas e de altíssimo preço. Já nas lojas populares as louças são empilhadas umas sobre as outras, de forma tal que até a visualização da peça é complicada, tem que se procurar os pares.
No comércio especializado em artigos de reuso refinado existem também artigos de reuso diferenciado, ou seja, que são usados para outras finalidades das que se destinavam antes. Por exemplo, uma roda de um antigo engenho vira um pilar que sustenta uma adega, ou dormentes (do trilho de trens) que se transformam e vergas e batentes de janelas e portas, ou até mesmo viram muros.
O reuso ainda é algo incomum para a maioria das construções, no entanto existe um esforço ecológico muito grande para que este se torne bem mais popular.








Reduzir, reutilizar e reciclar


Como já dito, a construção civil é uma das atividades que mais impacta no meio ambiente. Seja pela produção, extração e ou transporte das matérias-primas, a energia gasta e os resíduos que se perdem pelo meio do processo são altamente desproporcionais com o consumo real do material.

O desperdício na construção civil colabora com o aumento dos entulhos e lixões, muitas vezes localizados em espaços onde os ecossistemas são mais frágeis.

Uma construção sustentável deve atender a um planejamento rigoroso sobre o manejo do que entra e sai em sua obra e, principalmente, do que entra e sai no cotidiano de seu funcionamento.

Além disso, os materiais que entram e os resíduos que saem devem ser acompanhados desde o fornecedor até a entrega das sobras ao receptor.

Em primeiro lugar, certificar de onde vem o material é estar ciente de não colaborar com fornecedores irresponsáveis ambientalmente. Em segundo lugar ao destinar os resíduos é necessário estar ciente que aquilo que sobra não será despejado em alguma beira de córrego.

Hoje, empresas de demolição já recebem incentivos do governo federal para atenderem e comercializar entulhos de demolições.

A maioria dos materiais de uma obra em demolição pode e deve ser reaproveitada. Felizmente, vários setores da construção civil já se organizam e sentem no bolso o valor da reciclagem. Produzir, através de materiais que podem ser reciclados, às vezes sai mais barato do que comprar matéria prima, pois o preço da fabricação já está embutido no material de segunda mão.

Também é bom negócio para quem vai consumir este material reciclado, pois o preço é mais razoável. Assim todo mundo sai ganhando, principalmente a sociedade e o meio ambiente em geral.

Uma forma racional e coerente de se construir é ter certeza da quantidade necessária de material. Se for muito, reduza. Se for pouco, reutilize. Se sobrar, recicle.